Decorre, por estes dias, um encontro de estudiosos, na urbe que nos serve de capital, sobre assuntos mais ou menos depravados, questões mais ou menos puritanas.
Como muitos estarão a pensar, eu não podia deixar de fazer um post sobre o acontecimento.



Espero sinceramente que alguém se lembre de falar deste senhor, Arquíloco de Paros, que escreveu, algures no séc. VII a.C., estas linhas (trad. minha, inédita [ainda]):


por completo te abstendo.
Mas mostra igual coragem,
se te inquietas e o desejo te impele.
Temos em nossa casa
quem agora sente grande desejo...

bela e delicada donzela; parece-me
perfeito o corpo que possui.
Faz dela tua amante!”
Assim falou ela. Respondi-lhe então:
“ó filha de Anfimedeu, nobre e sensata mulher
que a terra sombria agora detém!
São os deleites da deusa
sem conta para os jovens varões,
além da coisa divina; um deles me bastará.
Mas isso, com calma,
logo que anoiteça,
eu e tu, se ao deus assim aprouver, havemos de decidir.
Farei como me pedes.
Intenso (desejo me despertas).
E de transpor esses portais, sob o teu arco,
não me impeças tu, meu amor!
Deter-me-ei ao chegar ao teu jardim
onde a erva cresce – fica a sabê-lo! Neobule,
que outro homem a tome para si.

Ai! Como está madura! O dobro da tua idade!
Murchou a flor da sua virgindade
e o encanto que tinha outrora.
Não tem limites o seu desejo
e revelou a medida da sua infâmia, louca criatura!
É lançá-la aos corvos!
Isso não…
que na companhia de tal mulher
para os vizinhos seria motivo de troça.
Muito mais te quero a ti,
pois não és desleal nem tens duas caras;
ela é muito mais fogosa
e muitos amantes arranja!
Receio que filhos cegos e prematuros
no ardor impaciente possa gerar,
como fez a mítica cadela. ”
Tais foram as minhas palavras.

Tomei então a donzela
e num leito de flores
a estendi. Com sedoso manto
a cobri e o seu colo rodeei
com meus braços,
acalmando o seu sobressalto,
tal como uma cerva...
Os seus seios gentis com as mãos acariciei:
tenra brilhava a sua pele,
feitiço da juventude .
Todo o seu belo corpo percorri
e então libertei o branco vigor,
ao toque dos seus louros cabelos.


(frg. 196a)


Para adoçar a vontade de passar por lá, ficam mais umas imagens que não será difícil ver reproduzidas num qualquer power-point de uma qualquer palestra.













E se, amanhã, o mundo não acordasse?
E se, amanhã, ninguém fosse para o trabalho, ninguém nascesse e ninguém morresse?
E se, amanhã, nada existisse?
E se, hoje mesmo, parássemos para pensar
para amar,
para sentir?


Eis o que penso quando ouço isto (velhos tempos):



Uma música que aspira ao infinito, que lembra o orgasmo de sensações de que falavra Álvaro de campos, na fábrica, febril.

O trailer:


Coração, ó coração, por males sem remédio derrubado,
ergue-te! Defende-te dos inimigos, opondo-lhes um peito
adverso, firme suportando as ciladas dos que te são hostis!
Se venceres, em demasia não rejubiles,
nem, vencido, em casa te deites entregue ao pranto.
Alegra-te antes com as alegrias, dói-te com as tristezas,
sem exagero. Aprende bem o ritmo que domina os homens.

(frg. 128 West)



Algures na primeira metade do século VII a.C., Arquíloco, um poeta/guerreiro/homem da ilha grega de Paros escrevia estas linhas, como que para se encher a si próprio de alento. Sábio poeta!!

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