mil vezes mil beijos

Apresentação do livro com leitura de poemas pelo grupo Thíasos da FLUC



Livraria Minerva

(Rua de Macau, Coimbra)

20 de Dezembro de 2007, 18h30

Welcome back!!!!!



Para os que têm mais dioptrias, eu transcrevo (nem é preciso ser a Amélia para isso):

04) Qual a função do apóstrofo?

Apóstrofos são os amigos de Jesus, que se juntaram naquela jantinha que Michelângelo fotografou.

Comentários (de um professor sem colocação, claro está):

1) O que estas crianças ouvem em casa?

2) Santa Concordata, que nos desgraças!

3) (para sermos construtivos:) O apóstrofo ( ’ ) é um sinal diacrítico que tem como função indicar a supressão de letras numa palavra, como pingo d'água para pingo de água, Vozes d'África ou Santa Bárbara D'Oeste. A esta supressão dá-se o nome de elisão.

4) Sra. Professora... não acha a pergunta no mínimo, vamos lá... parva?!

um ósculo


Desfalecido por doce combate, ó minha vida, jazia
sem forças, estendida a minha mão sobre o teu pescoço,
esgotado todo o sopro na minha boca ressequida;
com novo vento não podia reanimar-se meu coração.
Já o Estiges se perfilava ante meus olhos, os reinos onde não há sol
e a sombria barca do velho Caronte,[i]
quando tu, arrancando-o do fundo das tuas entranhas,
sopraste um beijinho molhado em meus lábios secos,
um beijinho que me fez regressar do vale do Estiges
e forçou o velho a zarpar de barca vazia.
Enganei-me. Não rema ele em batel vazio:
para junto dos manes voga já a minha triste sombra.
Parte da tua alma, ó minha vida, vive neste corpo meu
e sustém as articulações prestes a ceder.
Incapaz, porém, de suportar o retorno às leis de outrora,
ela avança, débil, por caminhos de segredo.
E a menos que lhe dês alento, com o encanto do teu sopro,
abandonará, em menos de nada, as minhas fracas articulações.
Por isso, vamos! Cola com força os teus lábios aos meus lábios,
e que sem cessar um único sopro aos dois sirva de alimento,
até que, passadas as agruras tardias de um furor insaciável,
uma só vida venha a esvair-se de duplo corpo.

[i] Caronte era o barqueiro que, nas margens do Estiges, o rio infernal, estava encarregue de transportar para o Hades as almas dos defuntos.

Trad. portuguesa de Carlos Jesus


NOTA: O lançamento do livro que contém este e mais 18 "Beijos", em edição bilingue, decorrerá na Livraria Minerva (Rua de Macau), Coimbra, no próximo dia 20 de Dezembro de 2007.


Este... já está, estou de saída do cortiço.
Muito obrigado aos que vieram e aos que, não estando cá, estavam de qualquer forma.




Mas não vá alguém acusar-me de obsceno (hoje até disseram, vejam bem, que eu era muito "contido" nesse campo), cá está o senhor que se segue, com as suas mulheres egípcias em súplica, que prometo "despachar", no bom sentido, até que se eclipse 2007:



Fica a promessa!







Durante quatro anos (vá, três),
este será, digamos assim,

a minha imagem de marca,
aquilo que ocupará grande parte dos meus dias,

e das minhas noites,
o que me dará, inclusive,
o "pão nosso de cada dia".

Minha gente, está a contar...

Decorre, por estes dias, um encontro de estudiosos, na urbe que nos serve de capital, sobre assuntos mais ou menos depravados, questões mais ou menos puritanas.
Como muitos estarão a pensar, eu não podia deixar de fazer um post sobre o acontecimento.



Espero sinceramente que alguém se lembre de falar deste senhor, Arquíloco de Paros, que escreveu, algures no séc. VII a.C., estas linhas (trad. minha, inédita [ainda]):


por completo te abstendo.
Mas mostra igual coragem,
se te inquietas e o desejo te impele.
Temos em nossa casa
quem agora sente grande desejo...

bela e delicada donzela; parece-me
perfeito o corpo que possui.
Faz dela tua amante!”
Assim falou ela. Respondi-lhe então:
“ó filha de Anfimedeu, nobre e sensata mulher
que a terra sombria agora detém!
São os deleites da deusa
sem conta para os jovens varões,
além da coisa divina; um deles me bastará.
Mas isso, com calma,
logo que anoiteça,
eu e tu, se ao deus assim aprouver, havemos de decidir.
Farei como me pedes.
Intenso (desejo me despertas).
E de transpor esses portais, sob o teu arco,
não me impeças tu, meu amor!
Deter-me-ei ao chegar ao teu jardim
onde a erva cresce – fica a sabê-lo! Neobule,
que outro homem a tome para si.

Ai! Como está madura! O dobro da tua idade!
Murchou a flor da sua virgindade
e o encanto que tinha outrora.
Não tem limites o seu desejo
e revelou a medida da sua infâmia, louca criatura!
É lançá-la aos corvos!
Isso não…
que na companhia de tal mulher
para os vizinhos seria motivo de troça.
Muito mais te quero a ti,
pois não és desleal nem tens duas caras;
ela é muito mais fogosa
e muitos amantes arranja!
Receio que filhos cegos e prematuros
no ardor impaciente possa gerar,
como fez a mítica cadela. ”
Tais foram as minhas palavras.

Tomei então a donzela
e num leito de flores
a estendi. Com sedoso manto
a cobri e o seu colo rodeei
com meus braços,
acalmando o seu sobressalto,
tal como uma cerva...
Os seus seios gentis com as mãos acariciei:
tenra brilhava a sua pele,
feitiço da juventude .
Todo o seu belo corpo percorri
e então libertei o branco vigor,
ao toque dos seus louros cabelos.


(frg. 196a)


Para adoçar a vontade de passar por lá, ficam mais umas imagens que não será difícil ver reproduzidas num qualquer power-point de uma qualquer palestra.













E se, amanhã, o mundo não acordasse?
E se, amanhã, ninguém fosse para o trabalho, ninguém nascesse e ninguém morresse?
E se, amanhã, nada existisse?
E se, hoje mesmo, parássemos para pensar
para amar,
para sentir?


Eis o que penso quando ouço isto (velhos tempos):



Uma música que aspira ao infinito, que lembra o orgasmo de sensações de que falavra Álvaro de campos, na fábrica, febril.

O trailer:


Coração, ó coração, por males sem remédio derrubado,
ergue-te! Defende-te dos inimigos, opondo-lhes um peito
adverso, firme suportando as ciladas dos que te são hostis!
Se venceres, em demasia não rejubiles,
nem, vencido, em casa te deites entregue ao pranto.
Alegra-te antes com as alegrias, dói-te com as tristezas,
sem exagero. Aprende bem o ritmo que domina os homens.

(frg. 128 West)



Algures na primeira metade do século VII a.C., Arquíloco, um poeta/guerreiro/homem da ilha grega de Paros escrevia estas linhas, como que para se encher a si próprio de alento. Sábio poeta!!


Beijo XIV


Porque me ofertas esse teu labiozinho em fogo?
Não quero, não quero agora beijar-te, dura Neera,
mais dura do que a dureza do mármore.
Tanto caso farei eu desses teus beijos inofensivos,
ó minha mulher vaidosa,
que com a verga enrijecida, em riste,
acabe por perfurar as minhas vestes e as tuas
e, furioso de desejo vão,
me consuma, infeliz, com o meu pau em fogo?
Para onde foges? Espera, e não me negues
Esses olhos, nem esses lábios em fogo!
Agora sim, quero beijar-te, minha ternura,
mais terna que a penugem de um ganso.



(Janu Segundo, poeta novilatino: início do séc. XVI)



E se Narciso, o herói que pela sua imagem se apaixonou, até para o riacho tombar, embevecido pela sua beleza, não se tivesse afinal apaixonado, não se achasse assim tão belo e, no momento derradeiro, se tivesse voluntariamente entregue à morte precisamente (imagine-se) por se achar horrendo?


O mancebo que foi, durante milénios que se não contam, símbolo de beleza, que com seu nome baptizou mesmo uma flor, parece afinal - assim o conta um recém encontrado papiro (Pap. Oxy. 4711) - ter nutrido por si próprio um ódio tão imenso que o levou ao suicídio.


Nessa confluência sempre confusa de reflexos num riacho, ou no mais íntimo de cada um de nós, parece afinal haver sempre lugar para o belo e para o feio, para o divino e para o mortal.


À semelhança de Narciso, o que vemos nós quando nos miramos num espelho? Que ser, formoso ou horrífico, está afinal do outro lado? Nós mesmos, ou uma cópia demasiado imperfeita do nosso ser, débil de mais para ser real? Na confusão de espelhos convexos, quando tudo se disforma - pelo contrário - não haverá aí lugar para nos encontrarmos?


Narciso tombou. De facto. Mas que coisa ou que ser fantástico (porque insondável, talvez) viu ele do outro lado das águas?




Lembram-se do mito da morte de Héracles, consumido pela túnica fatal que lhe enviara Dejanira, ciumenta pela paixão do marido pela jovem Íole. Embebera a peça de vestuário num filtro amoroso que lhe dera Nesso, o centauro, o mesmo que a havia tentado raptar nas margens do rio Licormas.
E Héracles, que ardia já numa paixão, vai arder de facto numa pira que ele próprio manda atear ao filho Hilo.
Nele, enfim, o amor (que é paixão) queima, arde e é bem visível aos olhos de quem o contempla.

Veja-se, a propósito, o Ditirambo 16 de Baquílides que acabo de traduzir:




Irei às terras de Piteu], já que que
um cargueiro de ouro me euviou,
da Piéria, Urânia de belo trono,
atulhado de afamados hinos
para o deus], no tempo em que, no florido Hebro,
entre feras] ele se alegra, ou com o cisne de longo pescoço,
com doçura da sua voz] animando o coração,
até a Pito] tu chegares, a buscar
dos péanes as flores,
Apolo Piteu,
essas que os coros das gentes de Delfos
entoam junto do teu ilustre templo.

Mas antes, cantemos como deixou
a Ecália, consumida pelo fogo,
o filho de Anfitrião, homem de ardilosos planos,
e veio para o promontário que o mar ondeia;
aí, do seu resgate, a Zeus de vastas nuvens,
o Ceneu, nove touros de grave mugir se dispôs a imolar,
mais dois ao deus que revolve os mares e abala a terra,
e à donzela de olhar violento,
a virgem Atena,
uma novilha de altos cornos, ainda por ungir.
Eis que o deus a que se não resiste
a Dejanira inspirou, razão de muitas lágrimas,

um plano astuto, quando ela
tomou conhecimento da dolorosa notícia:
que a Íole de níveos braços
o filho de Zeus, destemido na guerra,
a enviava, como esposa, ao seu refulgente palácio.
Ah infeliz! Desgraçada! Que foi ela planear!
O poderoso ciúme a deitou a perder,
junto com o tenebroso véu
que escondia as coisas do porvir,
quando, nas margens em flor do rio Licormas,

recebeu de Nesso a prodigiosa oferenda.


Um fogo consumado a que o grupo Thíasos, há já algum tempo, procurou dar expressão dramática e visual, ao encenar a peça "Traquínias" de Sófocles, da seguinte forma:



Fálicas formas...

Esta eu não podia deixar de publicar. Um amigo meu (não digo quem mas vocês conhecem) enviou-me estas fotos. Em plena Bracara Augusta há uma estátua, no mínimo curiosa, de um bispo com gostos no mínimo estranhos.


As fotos falam por si.








Acho que não é preciso acrescentar mais nada pois não? Digno de um bom mail desses que nos enchem a caixa de correio todos os dias, com fotos curiosas. Não me venham com coisas, isto não é coincidência, nem por nada aceito que é uma bengala normal.






Entrada livre
Organização: Festea – Tema Clássico, Associação Cultural Thiasos, Instituto de Estudos Clássicos

PROGRAMA DEFINITIVO




Dia 5 de Julho de 2007, 21h30, Coimbra Páteo da Universidade)
Hécuba de Eurípides

Hélios do IES Carlos III, Madrid

Hécuba é uma das mais apreciadas tragédias anti-bélicas de Eurípides. A datação não é totalmente segura; estima-se a primeira representação nos primeiros anos da Guerra do Peloponeso, por volta de 424 a.C. Nada sabemos quanto ao prémio obtido ou aos outros dramas apresentados a concurso nesse ano.
Hécuba, assim como As Troianas, passa-se logo depois da Guerra de Tróia e coloca diante da audiência alguns dos aspectos mais negativos de qualquer guerra.
Após a queda de Tróia, os navios gregos chegam à Trácia. No acampamento a ex-rainha Hécuba vê a sua filha Políxena ser sacrificada em honra de Aquiles, já morto, e logo depois depara-se com o cadáver do filho Polidoro, a quem julgava em segurança no palácio de Polimestor, seu genro. A rainha reúne forças e pede a Agamémnon, comandante dos gregos, uma oportunidade para castigar Polimestor. Então, com a ajuda das outras cativas troianas, cega o rei trácio e mata os seus dois filhos.


Dia 6 de Julho de 2007, Conimbriga
“Encontros do Efémero II”
(palestras e oficinas de teatro, pela manhã, tarde e noite dentro)

A par da IX edição do Festival Internacional de Teatro de Tema Clássico, o FESTEA (associação promotora) repete este ano, pela segunda vez, os “Encontros do Efémero”, que pretendem traduzir-se numa jornada de reflexão teórica e prática sobre o teatro.
A designação adoptada para esses encontros visa, antes de mais, salientar a dimensão única e irrepetível de cada experiência teatral — e por conseguinte efémera —, cuja perenidade é garantida não pelo registo fotográfico ou fílmico, mas antes pela impressão indelével deixada na memória do espectador, bem como pelo desafio contínuo de revisitar obras paradigmáticas, dando voz, cor e movimento aos grandes textos.
‘Efémero’ é também, à letra, tudo ‘o que dura um dia apenas’, de modo que estes encontros foram idealizados para se estenderem somente por um período máximo de 24h seguidas, durante as quais os participantes serão convidados a seguir um trajecto que irá desde a abordagem teórica de alguns aspectos ligados à arte performativa até à experiência iniciática da construção da personagem.
Dessa experiência, que pretende ser mais emotiva que racional, resultará ainda uma publicação que procurará registar as linhas e momentos essenciais destes “Encontros do Efémero”.


Dia 7 de Julho de 2007, 21h30, Braga
(Museu D. Diogo de Sousa)
Hécuba de Eurípides
Hélios do IES Carlos III, Madrid


Dia 8 de Julho de 2007, 21h30, Braga
(Termas Romanas)
Agamémnon de Ésquilo
Thíasos do IEC-FLUC

A peça Agamémnon foi apresentada pela primeira vez em Atenas no ano de 458 a.C.. Foi escrita por Ésquilo (525 a.C. – 456 a.C.) e faz parte de uma trilogia intitulada Oresteia, a única trilogia completa que chegou até aos nossos dias, composta por três tragédias: Agamémnon, As Coéforas e As Euménides. A trilogia é inspirada nas histórias do regresso dos heróis que lutaram contra a cidade de Tróia.
Agamémnon teve que sacrificar a filha Ifigénia a Ártemis, no início da guerra, para que os Exércitos gregos chefiados por ele pudessem chegar a Tróia. Na realidade Ifigénia não morreu durante o sacrifício, pois foi poupada pela deusa que a transformou numa sacerdotisa da cidade de Tauris. Acreditando que a filha havia sido morta, Clitemnestra jurou vingança. Tornou-se amante de Egisto, filho de Tiestes, e começou a conspirar contra o marido durante sua longa ausência.
Agamémnon regressa vitorioso após dez anos de guerra em Tróia, mas é imediatamente assassinado por Clitemnestra e Egisto, tal como Cassandra, princesa troiana, que recebera por escrava.


Dia 10 de Julho de 2007, 21h30, Coimbra
(Páteo da Universidade)
Suplicantes de Eurípides
Thíasos do IEC-FLUC

As Suplicantes de Eurípides, representadas no contexto da Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), resulta numa acutilante e sofrida reflexão sobre as consequências da guerra, de todos os tempos. O coro que dá o título à peça é constituído pelas mães dos sete generais que pereceram no cerco de Tebas, aliados de Polinices quando este pretendeu recuperar o poder ao irmão Etéocles.
Em termos mitológicos, portanto, a peça vem no seguimento directo dos Sete Contra Tebas de Ésquilo, do Édipo em Colono de Sófocles e das Fenícias de Eurípides, tratando tema idêntico ao da Antígona de Sófocles – o dever de prestar honras fúnebres aos mortos. O mito é já, contudo, um marco central no Ciclo Épico, com as obras Tebaida e Epígonos, de que nos chegaram apenas escassos fragmentos.
O pano de fundo da peça é o santuário de Elêusis, ao qual se deslocam Adrasto, velho rei dos Argivos, e as sete mães suplicantes, para pedir a Etra que convença o filho Teseu a reclamar junto de Creonte os corpos mortos dos sete generais. Relutante a início, Teseu aceita a tarefa. Chega entretanto um arauto tebano que conta a vontade contrária de Creonte, o que leva o rei de Atenas a partir para Tebas com um exército, que sai vitorioso. Os cadáveres entram depois em cena e, quando as mães os depositam na pira, surge Evadne, viúva de Capaneu, que, em delírio de Bacante, deseja morrer com o marido. Apesar dos pedidos do pai, ela acaba por se suicidar e arder com o marido, nas chamas que considera o seu leito nupcial. Num happy end tipicamente euripidiano, surge ex machina a deusa Atena, formalizando o pacto de amizade entre Argivos e Atenienses.
A guerra (justa e injusta), a morte, o amor e a defesa da Democracia, são estes os grandes temas que Eurípides apresenta e discute em Suplicantes. Uma peça nem sempre fácil de colocar em cena, mas cuja mensagem – grande mérito da tragédia clássica – é de todos os tempos.


Dia 11 de Julho de 2007, 21h30, Viseu
(Praça do Mercado)
Suplicantes de Eurípides

Thíasos do IEC-FLUC


Dia 12 de Julho de 2007, 21h30, Conimbriga
Agamémnon de Ésquilo

Thíasos do IEC-FLUC


Dia 13 de Julho de 2007, 21h30, Miranda do Corvo
(Largo da Câmara Municipal)
As Mulheres no Parlamento de Aristofanes
Thíasos do IEC-FLUC

Aristófanes transportava para os seus textos questões sociais, políticas, artísticas e religiosas da Atenas da sua época, critica com dureza e humor satírico as novidades que considera demagógicas e inoportunas.
Em As Mulheres no Parlamento Aristófanes satiriza um Estado imaginário administrado por mulheres, no qual tudo é de todos e as velhas têm prioridade para reclamar o amor dos jovens. Constrói assim, sob a capa da utopia, uma sátira à má governação.
A vida política e comédia sempre andaram de mãos dadas, num compromisso amargo para a primeira mas muito profícuo para a segunda. De resto, a sátira política constitui, em si, uma prova inequívoca do funcionamento, por rudimentar que seja, da natureza democrática de qualquer sociedade, como a Atenas do século V a.C..







Informações:
teaclass@ci.uc.pt
962565710 / 810

YELLOW

You are very perceptive and smart. You are clear and to the point and have a great sense of humor. You are always learning and searching for understanding.

Find out your color at QuizMeme.com!

Salue diem natalis...

Sim, é verdade, já estamos no dia do meu aniversário. A tese está praticamente feita (faltam os acertos), a vida não corre mal, o emprego insiste em não vir. Enfim, fica a pergunta: é mesmo obrigatório por lei estar completamente feliz hoje? Não poderei estar triste, vá lá, deprimidinho... talvez, sei lá, a puxar para o nostálgico... não? Pronto, está bem. Por vocês eu faço um esforço.

Como festejariam os Gregos o dia de anos? Vou ter que procurar saber disso. Fica uma imagem para a sugestão.


Salue diem natalis (qui est hodie mihi).



o regresso de el-rei


é morto, é morto
- diziam todos –
mas não viera para ele ainda a morte;

regressará, regressará
- replicavam –
mas dos céus tardava a cair
esse nevoeiro anestesiante,
órfica sensação de êxtase;

e morria aos poucos
o ínclito príncipe,
dos homens o primeiro
desacreditado…

um dia veio em que disseram
é vivo, é vivo el-rei;
mas já os homens não combatiam
a cavalo; já o mundo conhecera
todo o bem e todo o mal
e fruto do hélio eram as névoas
que sacras se queriam;

ninguém acreditou então
na vinda, no regresso prometido
de el-rei D. Sebastião.


18 de Setembro de 2003


a pira

não virá hoje o sono
consolador, ao herói aqueu,
nem nos braços das musas
cairá o ser dolente
da vida, da ausência declarada;

renunciou o deus
ao seu pedido; não lhe agradaram
no altar as vítimas
pouco puras, ao certo;

e inútil o altar inteiro,
aos céus não subiram
os fumos da pira sacrílega
pois que sacrílegas as mãos
que a atearam;

e não soprou o vento do norte
nem qualquer dos zéfiros.

e agora é a tenda
fria, branca;
o céu sem estrelas
onde cansados fitam os olhos
a demora da rósea aurora;

dominado é o herói
pela Insónia, divindade nova;

assim eram as noites em claro
nos tempos em que na batalha
lado a lado combatiam
homens e olímpicos.



21 de Setembro de 2003


intersecções

de novo me afundei
nas confusas malhas do teu ser
rede de delicados fios de linho
que nem atropos ousou cortar.

advertera-me lóxias divino
pelos sacrifícios propiciado,
mas em ti mergulhei
a um só salto vertiginoso
sem retorno.

nem me valeram, esquecidos,
os sábios conselhos de Cassandra
de desgrenhada cabeleira,
no dia em que, como suplicante,
penetrei as muralhas de príamo
que não podiam ser transpostas.

avançavam os teus olhos
(sanguinolenta visão do desejo)
e ao toque de duas mãos
petrificou todo o ser.

amei-te ainda com as parcas forças
de um cadáver que arde na pira,
corpo disforme que não correste a resgatar
das labaredas de hefesto
falsa Evadne.

o céu inteiro caiu
em cerrada treva.

era a hora em que, nos campos,
orfeu deliciava as feras
com o seu lácteo canto.

para mim, ítaca era menos
que uma quimera, menos que a utopia.
condenado o meu corpo ardia
nas margens do letes que cérbero guarda.

penélope esquecera a teia,
irrecusáveis as oferendas dos pretendentes
saqueadores do palácio que é meu.

e eu que por ti abandonara ogígia
e a bela calipso de rosto de prata.

Algarve, 25 de Julho de 2004



Neste segundo post, lembrei-me de dar conta aos potenciais visitantes (muito potenciais ainda) do que o grupo Thíasos da FLUC tem andado a fazer nos últimos tempos. Sempre com a paixão pelo teatro clássico que nos é própria, e porque acreditamos que tem ainda muito para nos dizer o teatro composto há milhares de anos, apresentámos, já em 2005, a comédia "Mulheres no Parlamento" de Aristófanes, com encenação de Zé Luis Brandão.




A peça está prestes a saír de cena e, muito pese embora algumas vozes de desagrado e cansaço, a mime a muitos deixará por certo saudades.

O ano de 2006 foi marcante para mim e para o grupo. Juntamente com Carla Braz, encenei a tragédia "Suplicantes" de Eurípides, um drama onde sete mães choram os filhos mortos e tudo fazem para, na teia política complexa que não as inclui, recuperar os seus corpos para serem sepultados.


"As Suplicantes" voltarão aos palcos em Julho, estando prevista a sua manutenção ainda para o ano de 2008.
Em Abril passado estreou a mais recente produção do Thíasos, a complicada tragédia "Agamémnon" de Ésquilo. Sob a direcção de Lia Nunes, pela primeira vez o grupo ousou encenar Ésquilo. O resultado é uma peça intensa e pesada, onde sentimentos tão contraditórios como amor fraternal e vingança se confundem a toda a hora. Numa lógica de adaptação do tetaro grego, sem contudo se perderem os seus traços originais, "Agamémnon" põe em cena não uma, mas duas Clitemnestras, uma a rainha e a outra a mulher traida, sedenta de vingança, para além de uma Erínia ensanguentada que, perto do final, perscruta de morte todo o palácio.
Sim, somos clássicos, e QUÊ?


A todos quanto tinham já estranhado o facto de me não ter ainda rendido a este mundo dos blogues, aqui está o blogue ClassiQUÊ. Um sítio onde tentarei, com a frequência possível pelo trabalho, deixar umas dicas e novidades sobre o mundo dos Gregos, Romanos... e o meu próprio mundo. Visitem, leiam, comentem... São todos benvindos (os que vierem por bem).


QUE COMECE A VIAGEM!


Newer Posts Home